Vinho para ouvir histórias

Conheça a história musical de Mark Knopfler e aceite nossa sugestão de degustação.

por Venâncio De Castro

Bruno Neves/Stock.Xchng

"Bom. Mas faltou rock and roll". Esta foi a avaliação de meu primo Leo após o show de Mark Knopfler, em sua última apresentação no Brasil, após ter lançado o CD "Sailing to Philadelphia". O Leo entende desse artista, pois, desde 1978, quando Mark Knopfler lançou seu primeiro disco com sua banda Dire Straits, eu e Leo fomos uns dos primeiros a comprar o LP para poder ouvir Sultains of Swing 10.000 vezes por dia. Tínhamos treze anos, e esse foi nosso primeiro LP.

O que Sultains of Swing fez, além de estabelecer Mark Knopfler como uma lenda da música, foi também confundir muitos sobre o que viria do artista após a clássica música. Muitos esperam até hoje um followup de Sultains, ou seja, uma musica rápida com guitarras eletrizantes etc, sem entender que Mark Knopfler é um contador de histórias e não um rocker pesado.

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O que veio depois são músicas tão delicadas, de contos dos mais variáveis, presentes em cada lançamento posterior ao lendário Dire Straits de 1978. Primeiro, a própria Sultains, que é a história de uma banda de rock and roll que Mark descreve, através das letras e arranjo, o clima que pairava nas apresentações. Depois, em Communiqué, a história do faroeste americano, no estilo filme de bang bang, com a música "Once upon a time in the West", cenas de tiroteios bandidos e mocinhos.

No próximo lançamento, Making Movies, a linda "Tunnel of Love" mostra a cena de uma feira com roda gigante, algodão doce e túnel do amor e um encontro passageiro entre dois românticos. Se parar para contemplar a cena, dá quase para cheirar o ar de um festival de luzes e sabores. Ele continua com "Romeo and Juliet", que, até hoje, é a música mais romântica que conheço.

No CD Love over Gold, Mark pinta a história do surgimento e da decadência de uma cidade do interior em "Telegraph Road". A cena perfeitamente descrita quando diz "depois vieram os advogados e depois as regras...". No próximo lançamento, Brothers in Arms, além de captar a onda MTV dos anos 80 em "Money for Nothing", ele descreve a paixão não retribuída em "Your Latest Trick", com um saxofone perfeito para descrever um coração partido. No último lançamento com a banda Dire Straits, On Every Street, cenas de New Orleans, festas de entretenimento nouveau riche e ídolos perdidos podem ser descobertos.

Nos diversos projetos independentes, Mark também se revela um contador de histórias. No CD Saililng to Philadelphia, está a história de Mason e Dixon, que dividiram o Norte e Sul dos Estados Unidos, formando a famosa Mason Dixie Line, protagonista da guerra civil americana. Já no CD Rag Pickers Dream, é descrita a cena de uma tropa circense que, unida, observa o mundo real ao seu redor, uns se apaixonando pelos outros... De novo, com uma contemplação delicada, é possível sentir o cheiro da palha do piso do circo. Finalmente, em Shangrila, Mark conta a história do McDonald's através da voz de seu fundador, Ray Kroch.

Agora, Mark lança um CD com a lendária cantora de country rock, Emyllou Harris - um projeto de 10 anos que promete histórias lindas. Ainda não degustei, mas espero com a ansiedade de uma nova safra da Toscana.

Uma vez, em Firenze, pedi um Solaia 1997, e o dono do restaurante me disse que, na Toscana, esse vinho é chamado de vinho de contemplação. Sinto a música de Knopfler assim, que merece um Solaia para ouvir os casos que ele conta, e contemplar a vida. Leo, meu primo, não falta rock and roll quando se têm histórias.

Dica
Sugestão etílica para as histórias de Mark Knopfler - Solaia 1997.

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