Passado venerado

A família Bouza cultua o passado e mantém os resquícios arquitetônicos locais ao montar sua vinícola no Uruguai

por Thalita Fleury

Na tranquila Bouza, os edifícios antigos ganharam novas funções

Ao todo, apenas quinze pessoas trabalham na Bodega Bouza, no Uruguai. Ela é um verdadeiro negócio familiar, dividido em duas propriedades: Las Violetas, área de grande tradição vinícola localizada a cerca de 40 quilômetros do centro de Montevidéu, e Melilla, espaço que abriga a vinícola, fixado a cinco quilômetros do rio Santa Lúcia.

A área de Las Violetas foi adquirida em 1998. Lá, já eram plantadas as castas Chardonnay, Tannat e Merlot, videiras que hoje têm de 20 a 30 anos. Logo depois, foram enraizadas também as variedades espanholas Albariño e Tempranillo.

Mellila é mais recente, foi comprada em 2001. Cinquenta anos antes, porém, o local foi palco de várias atividades agrícolas e também serviu como granja. A família que cuidava de tudo isso se chamava Pesquera. Eles também eram apaixonados por vinhos e, por isso, cultivavam vinhedos e produziam o fermentado em uma antiga vinícola.

A propriedade ficou abandonada por muito tempo, mas, mesmo assim, os edifícios resistiram bem ao passar dos anos. Apesar disso, foi necessário que todos fossem devidamente restaurados, fazendo com que se tornassem modernas instalações, mas sem que as raízes do passado fossem esquecidas.

A Bodega Bouza é uma propriedade familiar. Apenas 15 pessoas trabalham na vinícola

Inspiração francesa

A construção, de 480 metros quadrados, é de 1942 e teve inspiração nos Châteaux de Bordeaux. Antes de levantá-la, o arquiteto escolhido para o projeto percorreu por muito tempo as vinícolas da França. O resultado foi um prédio que remete à forma de uma igreja, com campanário e uma imagem de San Isidro Lavrador na porta principal. Os motivos para isso também se encontram no catolicismo da família Pesquera, que, apesar de nunca ter construído uma igreja, quis dar um ar religioso à vinícola.

Na parte externa também podem ser avistadas pequenas casas, datadas de 1920. Antes, elas serviam de moradia para os trabalhadores da granja. O conjunto nos remete às antigas colônias. Hoje, porém, as residências servem apenas como depósito.

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A mesma idade tem também outro edifício, que anteriormente serviu de galpão para guardar ferramentas e tratores. São 200 m2 que sofreram uma grande reforma para que o restaurante pudesse ser instalado no espaço. Junto a ele, estão dois decks de madeira, um coberto por 35 m2 de parreiras, junto das quais os visitantes podem se deliciar com saborosos pratos.

O passado da granja continua a permear o presente da vinícola nas outras edificações ao lado do restaurante. Tempos atrás, elas abrigavam a casa do capataz e a administração. Hoje, são oficinas e depósitos.

Hobbies

Na Bodega Bouza, o vinho não é a única paixão. Em uma dessas edificações, perto do restaurante, acontece a restauração de carros antigos. Há ainda outra parte de extrema importância para a família: o museu de carros. Nele, estão mais de 20 veículos antigos, todos em perfeitas condições. Há calhambeques Ford, Chevrolet, modelos Saab, Fiat, Alfa Romeo e motocicletas italianas e francesas.

As antiguidades não param por aí. Próximos ao museu estão dois vagões de trens ingleses feitos em 1929. No momento, a intenção é fazer com que eles sirvam de quartos, criando uma espécie de pousada para os visitantes que desejam passar a noite na vinícola. Essa, entretanto, é só uma das funções, pois outro vagão foi transformado em ponte sobre o pequeno rio Mellila, que atravessa Bouza, fazendo com que ela seja ainda mais graciosa.

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