Golfe e vinho

África do Sul coleciona títulos de golfe e excelentes opções de vinhos

A África do Sul é a segunda potência mundial de golfe, com 440 campos, e ainda coleciona excelentes opções de vinhos

Pearl Valley
Pearl Valley

por Guillermo Piernes

Extrair grande prazer no golfe é como lograr o máximo proveito de um bom vinho e depende fundamentalmente de sensibilidade e conhecimento. Como o vinho, o golfe é salutar na medida apropriada. Beber demais e jogar demais são causas históricas de divórcio, que sempre custa mais caro do que a melhor garrafa de vinho ou a melhor viagem de golfe. Viajar jogando golfe e bebendo vinho é a melhor receita contra o divórcio e para o brilho de uma relação. Por isso, transcrevemos alguns relatos de uma viagem de golfe e vinhos pela África do Sul.

Na sala da estação ferroviária da Cidade do Cabo, forrada de tapetes persas e confortáveis sofás, um grandalhão sorridente, com impecável sotaque inglês, recebeu nossa mala e nossos tacos de golfe. A recepcionista indicou o número de vagões que ocuparíamos para a jornada de 1.300 km e 25 horas a bordo de um dos mais fantásticos trens do mundo, o Blue Train. 

Para aliviar a tensão antes do embarque, aceitamos uma taça de Twee Jonge Gezellen Krone Boreais, champagne clássico do Cabo, que mistura em partes iguais Chardonnay e Pinot Noir. Uma cama grande, um criadomudo e uma escrivaninha de madeira. Uma boa banheira junto ao lavabo.

Apreciando os melhores vinhos sul-africanos

Mal acabamos de ler as instruções para usar o telefone celular da cabine, e o trem partiu, pontualmente ao meio-dia. Era nossa fantasia atravessar boa parte da África de trem, apreciando os melhores vinhos sul-africanos e preparando o espírito para jogar golfe nos deslumbrantes campos em Johannesburg, Sun City, Krueger Park. 

No trem cabiam apenas 74 passageiros. No último vagão-observatório, a atenção era monopolizada pelos vinhedos vizinhos à Cidade do Cabo e pelas plantações de girassol, cujas flores estavam levemente inclinadas para a fonte de luz, indicando que era hora de almoço no Blue Train.

Uma taça de Chardonnay Mont Rochelle, um vinho branco refrescante e levemente frutado, preparou o paladar. No cardápio, peixe fresco, ostras de Knysna, caça e verduras. Para acompanhar Saxenberg Private Colletion Stellenbosh 1998, da uva Pinotage, que se originou de um cruzamento entre Pinot Noir e Cinsaut (chamada localmente de Hermitage). Um sabor palpitante.

Vinho SA

Uma taça de Chardonnay Mont Rochelle, um vinho branco refrescante e levemente frutado, preparou o paladar. No cardápio, peixe fresco, ostras de Knysna, caça e verduras. Para acompanhar Saxenberg Private Colletion Stellenbosh 1998, da uva Pinotage, que se originou de um cruzamento entre Pinot Noir e Cinsaut (chamada localmente de Hermitage). Um sabor palpitante. 

Sua intensa cor de rubi se destacava junto à toalha e aos guardanapos brancos. Pela tarde, no meio da planície, o trem se deteve - atravessava uma fazenda, antiga propriedade de um orgulhoso inglês. Há mais de um século, o fazendeiro exigiu que, para construir a estrada de ferro em suas terras, cada trem que as atravessasse devia parar durante um minuto para que seu nome fosse lembrado.

Mas ninguém lembrava. Chegou a noite. Após um banho de espuma na banheira, vesti blazer e gravata, como a maioria dos homens. As mulheres chegaram com elegantes vestidos para jantar. As opções eram avestruz ou cordeiro da região semidesértica de Karro, a qual percorríamos. Um Allesveloren 1998, vinho tinto forte e aromático de uvas Shiraz, acompanhou a pedida. Depois, conversas no vagão do bar sobre o campo de Gary Player em Sun City, as mudanças sociais após o apartheid e o terroir do vinho que degustávamos.

Após passarmos por Kimberley, a legendária terra dos diamantes, o tema passou a ser, naturalmente, jóias. No meio da noite, carregamos as taças para a cabine. Pecamos ao ignorar as borbulhas ou a uva utilizada nesse champagne, enquanto o trem seguia avançando pela savana africana.

Dias de golfe, vinho e rosas

Gary Player Country Club
Um dos campos de golfe mais famosos na África do Sul é o Gary Player Country Club, em Sun City

É difícil escolher um campo de golfe na África do Sul, pelo excesso de opções. A África do Sul conta com 440 campos, ou seja mais de quatro vezes o número de campos do Brasil e com quase 10 vezes mais praticantes. Possivelmente, o campo de golfe mais famoso na África do Sul seja o Gary Player Country Club, em Sun City. Nesse campo disputam-se grandes torneios, como o torneio por convite, com prêmio de US$ 1 milhão ao vencedor.

Fica perto do hotel de seis estrelas do continente africano. O Durban Country Club é visita obrigatória para o turista de golfe. A África do Sul é, depois dos Estados Unidos, a potência mundial de golfe. Ernie Els é o terceiro do ranking mundial; Retief Goosen já venceu o U.S. Open e Gary Player é uma das grandes lendas do golfe mundial. 

Pela sua importância, o golfe sul-africano desenvolve um dos grandes circuitos, o Sun Circuit, onde o gaúcho Adilson da Silva fez algumas boas aparições. O golfe na África do Sul teve uma grande importância como ponte racial durante a dura época do Apartheid. Como era proibido o ingresso de negros nas sedes de clubes de brancos, os clubes de golfe decidiram realizar as cerimônias de premiação nos campos. Assim os poucos, porém bons, golfistas negros sul-africanos puderam participar em pé de igualdade com os brancos.

O herói de todos os golfistas negros sulafricanos é Simon Cox Hlapho que, por volta de 1950, chegou aos primeiros níveis. Nascido em Kwa Zulu-Natal, Hlapho era motorista de ônibus pela manhã e grande à tarde. 

Na África do Sul atual, o golfe passou a ser uma poderosa ferramenta de integração social. Existe um compromisso para que os clubes abram suas portas, especialmente no meio da semana, para que jovens e pessoas com menos recursos financeiros o pratiquem. A principal recomendação para os golfistas brasileiros que viajam à África do Sul é fazer contatos com as numerosas agências de turismo especializadas em viagens de golfe sul-africanas, que negociam os green fees, contratam caddies e carrinhos.

Guillermo Piernes é jornalista, escritor e consultor corporativo de golfe. Colunista de golfe da Gazeta Mercantil e Forbes. Autor dos livros Comunicação na América Latina e Tacadas de Vida. Ex-diretor de Informação Pública da OEA em Washington e ex-diretor de marketing das Federações de Golfe do Rio de Janeiro e Centro-Oeste/Nordeste. piernes@yahoo.com

* Texto originalmente publicado em fevereiro de 2006 e republicado após atualização

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